14 de Fevereiro
Carta de Amor
Ofelinha:
Para me mostrar o seu desprezo, ou
pelo menos, a sua indiferença real, não era preciso o disfarce transparente de
um discurso tão comprido, nem da série de “razões” tão pouco sinceras como
convincentes que me escreveu. Bastava dizer-mo. Assim, entendo da mesma
maneira, mas dói-me mais.
Se prefere a mim o rapaz que namora, e
de quem naturalmente gosta muito, como lhe posso eu levar isso a mal? A
Ofelinha pode preferir quem quiser: não tem obrigação – creio eu – de amar-me,
nem realmente necessidade (a não ser que queira divertir-se) de fingir que me
ama.
Quem ama verdadeiramente não escreve
cartas que parecem requerimentos de advogado. O amor não estuda tanto as
coisas, nem trata os outros como réus que é preciso “entalar”.
Por que não é franca para comigo? Que
empenho tem em fazer sofre quem não lhe fez mal – nem a si, nem a ninguém - , a
quem tem por peso e dor bastante a própria vida isolada e triste, e não precisa
de que lha venham acrescentar criando-lhe esperanças falsas, mostrando-lhe
afeições fingidas, e isto sem que se perceba com que interesse, mesmo de
divertimento, ou com que proveito, mesmo de troça.
Reconheço que tudo isto é cómico, e que
a parte mais cómica disto tudo sou eu.
Eu próprio acharia graça, se não a
amasse tanto, e se tivesse tempo para pensar em outra coisa que não fosse no
sofrimento que tem prazer em causar-me sem que eu, a não ser por amá-la, o
tenha merecido, e creio bem que amá-la não é razão bastante para o merecer.
Enfim...
Aí fica o “documento escrito” que me
pede. Reconhece a minha assinatura o tabelião Eugénio Silva.
1/3/1920
Fernando
Pessoa
in Correspondência,
1905-1922, ,
Assírio
& Alvim, Lisboa, 1998
Após a
leitura da carta, escreve uma a alguém que ames: pais, irmãos, avós, amigos,
namorado(a) … Pouco importa o destinatário. O que interessa é que sejas capaz
de quebrar as rotinas e de dizer, de uma vez por todas, “amo-te”.
(Consulta o
Regulamento)
Regulamento
1 – O Concurso de Epístolas é uma iniciativa da Biblioteca Escolar e tem como objetivo
promover o gosto pela expressão escrita.
2- São admitidas a concurso cartas, em prosa em língua portuguesa e
originais. (podem ser ilustradas ou não)
3 - Os concorrentes podem entregar no máximo duas cartas
manuscritas, até ao dia 14 de fevereiro.
4
– Os trabalhos originais devem ser assinalados sob pseudónimo e inseridos num envelope
fechado com indicação do Remetente
(nome, ano, turma e número) e do respetivo Destinatário.
5
– As cartas devem ser colocadas no Marco
de Correio, que se encontra na Biblioteca
Escolar.
6 –
O júri é constituído por três elementos, que atribuirá prémios às três
primeiras classificadas.
7 – Os prémios a atribuir serão divulgados brevemente e os premiados
recebê-los-ão numa pequena cerimónia, que decorrerá na Biblioteca, em data a
anunciar.
8
– A Biblioteca ficará detentora de todos os trabalhos concorrentes, reservando
para si os direitos de divulgação, exposição ou publicação dos mesmos.
9
– Os trabalhos que não respeitem o
Regulamento serão excluídos do Concurso.
10
– Os concorrentes deverão pedir o papel onde irão escrever a carta no balcão de
atendimento, da Biblioteca Escolar.
Biblioteca
da Escola Secundária Pinheiro e Rosa