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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Conto da Semana

Era uma vez um rei que vivia muito triste por não ter filhos e mandou chamar três fadas para que fizessem com que a rainha lhe desse um filho. As fadas prometeram-lhe que os seus desejos seriam satisfeitos e que elas viriam assistir ao nascimento do príncipe. Ao fim de nove meses deu a rainha à luz um filho e as três fadas fadaram o menino. A primeira fada disse:«Eu te fado para que sejas o príncipe mais formoso do mundo.» A segunda fada disse:«Eu te fado para que sejas muito virtuoso e entendido.» A terceira fada disse:«Eu te fado para que te nasçam umas orelhas de burro.»                              
Foram-se as três fadas e logo apareceram ao príncipe as orelhas de burro. O rei mandou sem demora fazer um barrete que o príncipe devia usar para lhe cobrir as orelhas. Crescia o príncipe em formosura e ninguém na corte sabia que ele tinha as tais orelhas de burro. Chegou a idade em que ele tinha que fazer a barba, e então o rei mandou chamar o seu barbeiro e disse-lhe:«Farás a barba ao príncipe, mas se disseres a alguém que ele tem orelhas de burro, morrerás.»
Andava o barbeiro com grandes desejos de contar o que vira, mas com receio de que o rei o mandasse matar, calava consigo. Um dia foi-se confessar e disse ao padre:«Eu tenho um segredo que me mandaram guardar, mas eu se não o digo a alguém morro, e se o digo o rei manda-me matar; diga, padre, o que hei-de fazer.» Responde-lhe o padre que fosse a um vale, que fizesse uma cova na terra e que dissesse o segredo tantas vezes até ficar aliviado desse peso e que depois tapasse a cova com terra. O barbeiro assim fez; e, depois de ter tapado a cova, voltou para casa muito cansado.
Passados algum tempo, nasceu um canavial onde o barbeiro tinha feito a cova.
Os pastores, quando ali passavam com os seus rebanhos, cortavam canas para fazer gaitas, mas quando tocavam nelas umas vozes que diziam: «Príncipe com orelhas de burro.»
Começou a espalhar-se esta notícia pela cidade e o rei mandou vir à sua presença um dos pastores para que tocasse na gaita; e saíam sempre as mesmas vozes que diziam:
«Príncipe com orelhas de burro.» O próprio rei também tocou e sempre ouvia as vozes. Então o rei mandou chamar as fadas e pediu-lhes que tirassem as orelhas de burro ao príncipe.
Então elas mandaram reunir a corte toda e ordenaram ao príncipe que tirasse o barrete; mas qual não foi o contentamento do rei, da rainha e do príncipe ao ver que já lá não estavam as tais orelhas de burro!
Desde esse dia as gaitas que os pastores faziam das canas do tal canavial deixaram de dizer:«Príncipe com orelhas de burro.»
 
 
Adolfo Coelho

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