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sexta-feira, 12 de março de 2010

Violência na escola - Bullying


Numa altura em que tanto se fala de vilência e de agressividade nas escolas, aqui vai uma história relacionada com o tema. Foi escrita por Madalena, Francisco e Isabel Stilwell e está disponível no livro Histórias para contar em minuto e meio.

O túnel até à escola

O Rodrigo detestava ir para a escola a pé, embora a escola fosse mesmo ao lado de casa, porque havia sempre miúdos que o chateavam pelo caminho. Gozavam com ele, e o pior é que ele corava imenso, ficava com a cara toda encarnada e, por isso, ainda o gozavam mais.
- Olha, aí vem o semáforo encarnado – gritava um quando o via no passeio do outro lado da rua.
- Bora lá fazê-lo passar a encarnado – dizia outro. E, dois segundos depois, lá estavam eles à volta do Rodrigo. O Rodrigo dizia a si mesmo com muita força:
- Rodrigo não cores, não cores, não cores parvo!
Mas não era ele que mandava no sangue que lhe subia à cara e, uns minutinhos depois, estava encarnado como um tomate.
Nas aulas os professores fingiam que não notavam quando o Rodrigo corava, e não deixavam os outros fazerem troça dele, mas o caminho para a escola era um pesadelo.
O Rodrigo, todos os dias, tentava alguma coisa para não ir para a escola. Quer dizer, ele não tentava de propósito: era mesmo a verdade que lhe doía sempre a barriga, ou a cabeça, ou se sentia enjoado ou maldisposto. Pudera, o nosso corpo é muito inteligente e quando temos de fazer uma coisa que não queremos mesmo, mesmo, ele dá-nos uma ajuda. O estômago solidariza-se com o nosso coração e, pronto, ficamos com uns sintomas, que que dizer sinais, a que normalmente os nossos pais ligam mais do que quando nos queixamos de sentimentos como o medo, ou a vergonha.
Mas a mãe do Rodrigo não tinha perdido a memória. Ela sabia muito bem que as doenças, às vezes, são sinais de que sentimos coisas que não queremos contar, às vezes nem sequer as percebemos suficientemente bem para as traduzir por palavras.
Por isso, insistiu e insistiu e ficou a saber que uns miúdos maus o chamavam de semáforo encarnado. Queria ir à escola falar com a directora e com os pais desses meninos, mas o Rodrigo não queria, porque tinha medo que depois ainda fosse pior.
Então o menino pediu-lhe um mês.
- Se daqui a um mês ainda estiverem a torturar-me eu peço à mãe para ir à escola, pode ser – pediu o Rodrigo que, claro, estava muito corado a dizer isto… porque como se percebe desta história as pessoas que coram, coram, e não têm culpa disso.
A mãe achou que o Rodrigo ia resolver o problema sozinho e ficou muito orgulhosa dele. Mas ele não tinha a menor intenção de ir lutar contra aqueles matulões do 6º ano. A ideia dele era construir um túnel entre a casa e a escola. E, nesse mesmo dia, começou a cavar, com a ajuda de outros amigos lá do prédio.
E sabem que conseguiu mesmo? Um túnel escuro e estreitinho mas que chegava mesmo até à escola. Assim, o Rodrigo ia para as aulas sem se cruzar com os idiotas. Mas melhor ainda, todos os outros escavadores que o ajudaram a construir aquela passagem secreta, passaram a ser os seus melhores amigos na escola e fora dela, e o Rodrigo ficou tão contente que nunca mais teve dores de barriga de manhã. Ficou mesmo tão feliz, que até não se importava de voltar a encontrar aqueles parvos que o faziam corar, mas para quê, se tinha um túnel direitinho da cave ao recreio da escola, para além de não apanhar chuva no Inverno, nem calor no Verão?

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